quarta-feira, 30 de junho de 2010

Don't go away, just go away

"Como ousa acordar-me de um sonho?", disse a cética mulher provocando, assim, seu fiel companheiro. Ingrata mulher! Como poderia se esquivar tanto daquele que sempre a ouvia, a olhava nos olhos e que só dormia depois que percebesse seu semblante de calmaria e paz? Em troca, ele pedia amor. Não amores de filmes e afins, mas um amor real, duradouro. Um amor que faça sua passagem na Terra valer à pena, que o satisfaça! Ela, não obstante, o usava como um prêmio, como algo na sua estante para mostrar aos que a visitavam. Isso o deixava louco! O que, de fato, tornava aquela convivência cada vez mais insuportável! Em cada crise, ele se vingava destruindo coisas que ela gostava: suas roupas, seus sapatos, aquele sofá novo, caro e inútil e até um belo porta-retrato de vidro que guardava uma foto dos dois. Pura ilusão! Quando foi a última vez que passearam juntos? Que assistiram um bom filme em casa? Ah, como isso o machucava... Apesar de constantemente tentar, não conseguia fazer com que ela abrisse um sorriso sincero, como foi quando se conheceram através daquele vidro na cidade. Ela o levou para a vida, agora o mata aos poucos... Lá estava ele, então, sob seus pés, arrependido por ter latido para acordá-la. Levanta-se e passa por aquele que logo morreria por causa da raiva. Não a doença, mas a raiva de si mesmo, por não ter conquistado aquela linda mulher. "Ó vida, por que tanta crueldade?"

domingo, 27 de junho de 2010

Ser mão para ela mesmo

Não serás altruísta
És consumida por faíscas
De um fogo sem calor
Não sentes as brasas embaixo dos teus pés?
Criou-se rapidamente
Um ser indiferente
Inatingível, tu és
Continua, no entanto, pretendendo ser
A destruidora de um ser
Que já a destruiu por ser
Somente, na sua vida, mais um ser.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Seguiré

O melhor da dor é o sentimento de alívio e satisfação, ainda que ilusório, provocado por algo tolo.
Tolices constroem a vida, meu caro.
Sendo assim, vou chorar.
Chorar como um recém-nascido: um choro puro, sem culpa, sem intenções.
Choro de libertação!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sin razón, sin corazón

Liberte-me de mim mesma
Existir por existir, eis o martírio!
Não sacie, por completo, meu prazer
Feliz daquele que é insaciável!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Hopeless, endless

Quanto mais ela diz que ele não a enganará novamente, mais sente-se seduzida e envolvida por suas garras invisíveis. Garras que a machucam, a limitam e a alimenta. Ele é cruel, infiel, mas a eleva ao céu. Não é sangue, mas propala-se pelo corpo sedento daquela mulher. Ele traz a paz, lhe tira a paz. Lembranças de beijos e arrepios a fazem comprar mais remédios contra insônia. Aquela maldita insônia a impedia de ser verdadeiramente feliz ao lado dele, de viver uma verdade em uma mentira de oito horas. Sabe que não merece, que não deve continuar e que as lágrimas têm um sabor ruim. Não obstante, lá vai ela, hipnotizada por aquele olhar tímido. O olhar que a despeçada aos poucos. "Junte os meus pedaços! Não os esconda embaixo do tapete, mais uma vez", disse ela baixinho, temendo acordá-lo.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Hay que ser del mundo

Sentimentos frívolos preenchem o que seria vácuo
para criar uma realidade alternativa,
deixa-te à deriva.
Não sabes onde está o fim,
o fim deste começo angustiante.
O bom é perde-se prematuramente,
o ruim é insistente.
Queres outra vida, temes a reencarnação...
Deixe a paz invadir teu corpo cansado,
antes que não haja mais corpo!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

No way out

"Adaptar-me-ei às frustações cotidianas!", disse, há um tempo atrás, aquele rapaz jovem e alto; nasceu com cabelos negros como teu futuro e um sorriso capaz de matar alguém. O próprio dom o matou. Era o mesmo rapaz que fora encontrado balançando no próprio quarto. Não possuia mais aquele semblante apático de um conquistador nato, mas marcas no pescoço e pés gelados. A desordem do lugar era análoga ao que se passava em sua mente. Por fora, um corpo capaz de atrair qualquer um, homem ou mulher, criança ou idoso; sempre sabia o que falar e o que fazer para que os outros pudessem se sentir bem. Ah, era uma grande compania! Por dentro, entretanto, havia um ser desesperado por um renascimento. Não era justo gastar uma vida como o ator que era: ator de uma peça triste, vazia, enganosa. Tentou, por várias vezes, acordar e sorrir em frente ao espelho, agora despeçado, que costumava ficar em frente à sua cama. Abria a janela com o intuito de clarear a própria vida, mas a poluição que de lá entrava o destruía. Era poluição sonora e visual: pessoas passando em frente a sua casa sorrindo, fazendo planos, desejando muitos dias daquela dádiva. Casais abraçados, mães carregando crianças no colo, idosos jogando dominó enquanto uma suave brisa refrescava o dia. Dentro da tua gaveta, não obstante, havia escuridão e uma corda que comprara para usar em uma escalada que há muito havia prometido a si mesmo que a faria. Não a fez, como muitas outras coisas em vinte e três anos de vida - sendo três de pura existência sem sentido. Era muito fraco para dar continuidade àquela solidão, mas forte o suficiente para se colocar numa situação sem volta. "Pobre garoto!", disse o perito ao ver a cena. Piedade outros sentiriam, mas era tarde demais. A piedade deveria ser um martírio, e não algo que soasse como compaixão. Ao invés de sentir piedade, é preciso enxergar o que se passa atrás do olhar de cada um, quando estes ainda podem abrir os olhos. O egoísmo, porém, é carregado, difícil de ser digerido. Fecham a sacola onde está o corpo e seguem sua vida naturalmente. Alguns ainda derramarão algumas lágrimas secas e desleais. Depois enxugarão os rostos e tirarão uma folga para um happy hour, afinal, perder um conhecido é algo extremamente desolador. Hipócritas! Enquanto isso, em algum lugar, para o belo rapaz o pesadelo só recomeçou. O que é pra ser, mesmo que seja injusto e irreal, certamente será. Situações irreais empurram-nos para um invisível buraco negro.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Mírame

A dor e o amor se encontram na região central.
Catarina ou Atena:
depende da estória, do ato, da cena.
Tudo é nada! Nada mal...
Entregar-me-ei sem hesitação!
Não procurarei saber quem sou:
não me cativa essa definição.
Procurar caminhos sairá de moda;
esperar pelos próximos segundos sairá de moda;
assim, presentear-me-ei com a vida.
Continuarei sendo, porém,
só dois extremos em constante oscilação.
Em busca do nada,
em busca do tudo,
em busca de um equilíbrio duvidoso,
eu estou.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pero con dolor

A maior desgraça da vida é não poder chorar. Nada causa-lhe mais inveja do que ver alguém aos prantos. O desespero é divino, uma dádiva. O olhar angustiado, acompanhado pelas lágrimas e pelo soluço, é algo tão perfeito que só alguns os merecem! Pudera ele chorar sua angústia, lavar seu interior! Seu sangue já congelou. O traço ríspido o acompanha. Lágrimas são memórias de um passado triste, porém satisfatório, e distante. Quis tornar-se forte, hoje é rígido. Quis não mais sofrer, hoje sofre por não sentir. Faça-lhe um corte profundo na face, para que combine com a lacuna da sua alma.